Pete Coors, sobre a grande indústria da cerveja e o desafio das artesanais

Peter Coors, o chairman de uma das maiores produtoras de cerveja do mundo, falou sobre os problemas e desafios que a cerveja artesanal está a colocar à grande indústria da cerveja.



Pete Coors, sobre a grande indústria da cerveja e o desafio das artesanais


Peter Coors, 67 anos, neto do conhecido empresário da cerveja Adolph Coors, é o actual chairman da MillerCoors e da Molson Coors Brewing Company. Esta última é a sétima maior produtora de cerveja do mundo em termos de volume.  Já há algum tempo que existem sinais de que a cerveja artesanal está a ganhar mercado, nomeadamente nos Estados Unidos, enquanto as “grandes cervejas”, da grande indústria, vão sofrendo perdas ano após ano. Pete Coors deu uma entrevista ao The Denver Post em que refere os desafios que a indústria tem enfrentado.

Peter Coors

Peter Coors deu uma entrevista ao The Denver Post, em que falou dos desafios que a artesanal coloca à grande indústria. (Photo por The Denver Post)

Os últimos resultados disponibilizados pela MillerCorrs no mês passado mostram que as vendas domésticas para os retalhistas e distribuidores decresceram em média cerca de 2%. Os inquéritos aos consumidores parecem indicar que as pessoas estão a ficar fartas das cervejas light premium, a típica oferta de cervejas light “especiais” da grande indústria.

Pete Corrs referiu que a sua companhia continua a fazer o que é possível para acompanhar as tendências e que os grandes produtores estão a adoptar uma postura mais estratégica. Adiantou: “Basicamente o maior problema que temos são as vendas on-premise. Temos muitos donos de bares que estão enamorados pelas cervejas artesanais. Eles estão a começar a retirar as torneiras das premium light e colocar garrafas atrás do bar em vez disso e a substituir as torneiras pelas de cerveja artesanal. Quando isso acontece perdemos 50% do nosso volume”.

A companhia está a tentar convencer os donos de bares a não retirarem as suas cervejas de barril e para isso tentam impressioná-los com factos. “Fizemos estudos que mostram que não é do interesse económico do bar fazer isso”, disse. “Ter uma marca premium light, seja ela Coors, Miller ou Bud traz benefícios económicos para o negócio dos bares. As pessoas ficam sentadas no seu lugar em média durante mais 18 minutos quando estão a beber uma cerveja light premium de pressão. Isso significa que  estão a gastar mais dinheiro, a deixar gorjetas maiores. Temos um pequeno algorítmo e uma app que damos aos nossos distribuidores para que avaliem e analisem estes negócios e bares”.

Coors disse ao The Post que a Blue Moon - uma belgian white introduzida em 1995 - continua a ser a “cerveja artesanal” mais vendida no país. É uma afirmação rejeitada por muitos porque a Coors não encaixa na definição de Cervejaria Artesanal da Brewers Association, o grupo comercial dos cervejeiros artesanais independentes. Informou também que a companhia tem em perspectiva a criação de novas cervejas, a aquisição de mais cervejarias e de aumentar a promoção as suas novas marcas de cidra. Referiu que a compra da Terrapin Beer Co. em 2009 é uma das experiências em curso.

“Sabemos muito sobre produção de cervejas mais artesanais e estamos sempre a explorar coisas novas. Temos um grande portefólio. A Anheuser-Busch tem um portefólio gigante. Eles adquiriram a Goose Island e outras. Comprámos uma cervejaria artesanal na Geórgia, a Terrapin. Nós somos de interesse minoritário, o que não nos está a ajudar. Por isso estamos a aprender sobre isso. E temos uma marca de cidra em crescimento.”

“Todos eles (cervejarias artesanais) querem crescer, mas quanto mais crescem, menos artesanais são”, disse. “Eles estão a tornar-se relativamente grandes e estão a ocupar os espaços uns dos outros. Estão a ter dificuldades em definir-se como artesanais por causa do seu tamanho”.

Coors disse estar orgulhoso pela sua cervejaria ter ganho prémios importantes na World Beer Cup, uma situação que originou algumas vaias na audiência do evento. A Coors Brewing Company e o  Dr. David Ryder, cervejeiro-mestre da MillerCoors, foram reconhecidos como cervejaria e cervejeiro campeões entre as grande companhias de produção de cerveja. Também foram atribuídos prémios a sete cervejas da MillerCoors.

Admitiu estar perplexo com as tendências que mostram a subida de cerca de 7% do mercado das mais dispendiosas cervejas artesanais, o que não acontece com a oferta da grande indústria que em alguns casos tem tido decréscimos numa percentagem ainda maior. “Nesta economia isso é difícil de perceber”, disse. “Mas as pessoas agora ficam mais por casa, e não estão a comprar carros ou casas. Elas têm dinheiro para gastar. Querem gastá-lo em alguma coisa que achem ter maior valor. … Vocês falam sobre os Millennials. O mundo é muito diferente.”

O mundo não é certamente diferente para Pete Coors, que diz beber a mesma cerveja há décadas: “Sou um consumidor de Coors Banquet. Tomei-lhe gosto e simplesmente não consigo mudar.”

Veremos se esta estratégia de apresentar “factos científicos” convence os donos dos bares a deixar a cerveja artesanal em segundo plano. As estatísticas parecem alertar para a necessidade de uma nova abordagem. Os consumidores cada vez mais optam pelo melhor sabor e qualidade. Talvez o melhor caminho para a grande indústria seja o de melhorar a qualidade dos seus produtos. É óbvio que isso certamente implicará uma grande diminuição nos seus lucros, mas talvez seja a melhor ou até a única forma de convencer os novos consumidores.

(Fonte: The Denver Post; imagem de capa: WalletGenious.com)



Partilhar Facebook Twitter Linkedin E-mail